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SANTIFICAÇÃO NÃO É UM PROCESSO. (PONTO)

SANTIFICAÇÃO NÃO É UM PROCESSO. (PONTO)



Santificação não é um processo. Após a justificação, ou seja, quando Deus nos declara justo, Deus nos torna participante da sua santidade. Não sendo assim, a santificação seria um tipo de auto patrocínio da salvação. Não podemos esquecer que estamos na Nova Aliança e não na Velha Aliança. Isto quer dizer que a santificação não pode ser vista como produto de esforço pessoal, porque isso faria do sacrifício de Jesus algo nulo.

Louis Berkhof é contra qualquer ideia de autoajuda:

«Santificação] é uma obra sobrenatural de Deus. Alguns tem a ideia equivocada de que santificação consiste apenas no alongamento da nova vida, inserida na alma pela regeneração, apresentando motivos convincentes para o desejo. Mas isso não é verdade. Isso consiste fundamentalmente e principalmente em uma divina operação na alma, por meio da qual, uma santa disposição é originada na regeneração e fortalecida e as boas obras são aperfeiçoadas». (Systematic Theology, 532)

Em outras palavras, santificação é essencialmente uma obra de Deus. Embora seja também «uma obra na qual crentes cooperam.» Quando é dito que o homem participa na obra da santificação, ISSO NÃO SIGNIFICA que o homem seja um agente independente nesse esforço, de forma que parte seria trabalho de Deus e parte do homem, mas significa apenas que Deus efetua a obra através do homem como um ser racional, requerendo dele uma cooperação piedosa e inteligente com o Espírito. (Systematic Theology, 534)

Herman Bavinck (1854-1921) segue a mesma linha de Berkhof. Segundo ele, a santificação é, antes de tudo, o que Deus faz EM e POR nós:

«É admitido, em primeiro lugar que [santificação] é uma obra e dom de Deus (Fp 1:5; 1Tess 5:23); um processo no qual se inicia na regeneração. Embora essa obra seja estabelecida nos homens, ela alcança, em segundo lugar, um sentido ativo, e as próprias pessoas são chamadas e capacitadas a santificar a si mesmas e a devotarem completamente suas vidas a Deus». (Rom. 12:1; 2 Cor. 7:1; 1 Tess. 4:3; Heb. 12:14; e assim por diante, 4.253)

Percebam que a Teologia Reformista, que é absolutamente monergista, não permite a visão de auto ajuda em termos de santificação. A ação humana fica a cargo do próprio Espírito Santo que opera no homem.

Por outro lado, há uma coisa nas ideias de Charles Hodge (1797-1878) que devemos entender. Senão, vejamos:

«Primeiro, ele afirma que a santificação É UMA OBRA DA GRAÇA SOBRENATURAL. Isso NÃO É ALGO QUE VEM DE NÓS ou PODERIA SER EFETUADO POR NÓS. Segundo, ele sugere que a alma é passiva (monergismo) na regeneração; terceiro, ele não hesita em usar a linguagem da cooperação. Nós somos ativos no processo de santificação com Cristo ENQUANTO ELE TRABALHA EM NÓS».

Finalmente, Wilhelmus A. Brakel (1635-1711) deixa claro que a santificação É UM TRABALHO DE DEUS. «Somente Deus é sua causa», ele escreve:

«Assim como o homem não pode contribuir para sua regeneração, fé e justificação, da mesma forma não pode contribuir para sua santificação» (The Christian’s Reasonable Service, 3.4).

Só para o nosso entendimento, em momento algum e de todos esses textos aqui citados, nenhum deles admite a passividade (monergismo) do homem em termos de santificação. Só que o lado ativo do homem quando se trata de santificação tem outros fundamentos, e não este processo do qual as pessoas fazem tanto menção sem dele nada saber.

Gostaria ainda de citar as palavras de A. Brakel:

«Crentes odeiam o pecado, amam a Deus, e são obedientes, e fazem boas obras. Entretanto, eles não fazem isso por conta própria nem independentemente de Deus; antes, o Espírito Santo, tendo infundido vida neles na regeneração, Ele [o Espírito Santo] mantém essa vida pela Sua contínua influência, despertando, ativando e fazendo com que ela funcione em harmonia com sua natureza espiritual». (3.4)

O que se depreende das citações acima é que o homem, após passar pela regeneração, ser declarado justo, e se tornar participante da santidade de Deus, começa, pela ação do Espírito Santo, a odiar o pecado, amar a Deus, ser obediente e a fazer boas obras (não para ser salvo, mas porque é salvo).

Na Nova Aliança, ou seja, depois da morte de Jesus no Calvário, as coisas não funcionam a partir do homem, mas sempre a partir de Jesus e de seu sacrifício, como está escrito em Romanos 5:19:

«Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos».

O que a Bíblia está dizendo é que eu fui feito «justo» não por causa da minha obediência, mas eu me tornei justo por causa da obediência de Jesus. Por causa da obediência de Jesus, agora eu sou capaz de ser obediente. Se Jesus não fosse obediente primeiro a minha obediência não iria funcionar. Não é a minha obediência que vem primeiro para Deus fazer algo. Agora é a obediência de Jesus primeiro que me capacita a ser abençoado.

Aqui no Brasil nós somos comportamentalistas. Eu estou dizendo que a maioria das igrejas brasileiras coloca a acentuação da salvação no comportamento bom ou mau de cada indivíduo. A Bíblia, diferentemente, coloca a acentuação da salvação sobre a pessoa de Jesus e o seu sacrifício. Isto quer dizer que é o seu sacrifício que nos torna justos.

Finalizo esta reflexão fazendo uma citação de um dos meus livros sobre a santificação.

A santificação, como a justificação, acontece praticamente no mesmo instante na vida de uma pessoa salva por Jesus. Ou seja: no mesmo momento em que você é absolvido da culpa, pela justificação em Jesus, através da santificação, sua vida passa a ter um novo começo, como se você nunca tivesse pecado. Isto quer dizer que a santificação, neste primeiro sentido, é uma bênção de participação. A linguagem paulina impõe esta ideia, quando ele usa a expressão “aos santos” repetidas vezes nas suas epístolas. O verbo que o apóstolo usa se encontra no particípio perfeito passivo. Isto quer dizer que não é o sujeito que pratica a ação, mas o sujeito sofre a ação. Conclusão: não somos nós que nos santificamos; Deus, sim, nos faz parte da sua santidade.

Só quero lembrar aos leitores que esta ideia não é nova, mas os teólogos Calvino, Turrentini, Hodge, Berkhof e Bavinck já a admitiam.


Rev. Paulo Cesar Lima

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