“Ninguém toma banho duas vezes com a mesma água”, já dizia
Heráclito, famoso filósofo do período pré-socrático. Isto porque a segunda água
não é igual a primeira; e o homem do segundo banho é diferente daquele do
primeiro.
Significa dizer que
passamos por transformações a cada momento de nossa existência. E o inevitável
não há quem possa deter.
Alguns que não querem
entender esta realidade tentam contestar o incontestável, utilizando-se de
meios absurdamente equivocados. Aceitar o novo, como realidade crucial, não é
tão fácil assim, principalmente o que nos escapa ao controle.
Toda e qualquer
mudança, seja ela qual for, é complicada e gera um misto de sentimentos, como
conforto-desconforto, segurança-apreensão, paz-inquietação,
prazer-insatisfação, certeza-dúvida. Mas, se por um lado as propostas de
mudança nos trazem esses sentimentos divergentes e às vezes perturbadores,
muito pior é aquela mudança de face absolutamente cristã, que exige de nós mais
profundidade no que acreditamos, mais conhecimento no que sabemos, mais
compromisso no que fazemos, mais responsabilidade no que tratamos, mais
espiritualidade no que somos, mais solidariedade no que praticamos. Isto porque
comumente as pessoas que são confrontadas com tais realidades e concreções, se
sentem extremamente ameaçadas na sua antiga crença, nos seus padrões éticos
formais, nos seus estereótipos religiosos, na sua conduta cristã até então
inquestionável e nos seus comportamentos admitidos como irretocáveis. Contudo,
a despeito de todas essas barreiras com respeito a mudanças, há uma que se
constitui no grande e maior obstáculo para aqueles que precisam mudar: a comodidade.
A maioria esmagadora
das pessoas não deseja mudar, pelo fato de acharem que não precisam de mudança
alguma, e também em razão do fato de saberem que qualquer mudança, neste
nível, pressupõe renúncia, desprendimento, desapego das coisas com as quais já
se está acostumado. Com efeito, qualquer mudança desse tipo incomoda,
inquieta, desassossega, porquanto mexe com resistências psicológicas
fortíssimas e sobretudo intranquiliza os que estão vivendo vida cristã no
bem-estar da omissão.
Mas para um crente cristão
que deseja viver na linha da coerência diante de Deus, sempre lhe é exigido
constante tensão em buscar, de Deus, a maneira mais correta de viver; de sorte
que “mudança” para um cristão não deve ser vista como algo incômodo, nem
tampouco como ameaça, mas sempre como um meio para se alcançar o crescimento
espiritual desejado e projetado por Deus.
Jesus Cristo ensinou em
metáfora sobre a maneira mais revolucionária de provocar a mudança na vida de
alguém. “E ninguém põe vinho novo em
odres velhos. Se fizer isso, o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o
vinho, e os odres se estragarão” (Lucas 5.37).
Evidentemente, a
impetuosidade desta declaração não tem o sufrágio da maioria, mas, por outro
lado, impõe algumas regras que devem ser respeitadas para que a mudança
proposta pelas boas novas do evangelho aconteça. Primeiramente, não pode haver mudança efetiva na vida de alguém se
o conteúdo não estiver em consonância com o receptáculo. Ou seja: a verdade
ímpar que o Filho de Deus traz para dentro do contexto religioso só tem efeito
na vida daquele que já foi transformado por Jesus, se não tudo que é novo,
transformador, desinstalador, provocador, desafiador no evangelho passa
despercebido e nunca se torna realidade transformadora. Quem ainda não teve na
vida uma mudança implementada pelo poder do evangelho não consegue avaliar a
riqueza de conteúdo que existe em cada ensinamento de Jesus.
RPC.
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