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EM CRISTO, NÃO HÁ JUDEUS E NÃO JUDEUS. TODOS SÃO FILHOS DE DEUS



EM CRISTO, NÃO HÁ JUDEUS E NÃO JUDEUS. 
TODOS SÃO FILHOS DE DEUS


Os eruditos e teólogos de linha puritana, por causa da epístola de Paulo aos Romanos capítulos 9, 10 e 11, criaram a ideia da «salvação nacional» dos judeus.

No raciocínio de Scofield, a epístola aos Romanos, nos capítulos 9, 10 e 11, é uma prova irrefutável de que Deus ainda vai salvar a nação de Israel. Porém, um estudo detalhado dos capítulos desmentem por completo esta desconexa teoria.

Analisemos, portanto, por um pouco de tempo, alguns versículos destes capítulos que viraram verdadeiros «chavões» para o dispensacionalismo scofieldiano, o qual persiste em dizer que Romanos 9,10 e 11 tratam apenas do caso da nação judaica e que a Igreja não entra neste departamento. Todavia, observe o leitor se a Igreja está ou não nesses corredores sagrados da nação judaica, segundo Scofield.

1. ROMANOS 11.1: «Pergunto, pois: ‘Acaso rejeitou Deus ao seu povo? [está falando de Israel] De modo nenhum; porque eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de benjamim». Os adeptos de Scofield pegam este versículo isoladamente sem nem mesmo olhar o seu contexto, pois logo imediatamente abaixo desta declaração Paulo fala de um «remanescente», assim como, no tempo de Elias, Deus reservou para si sete mil varões (Rm 11.11) e no v. 5, o apóstolo revela quem é este «remanescente». Ele diz: «... um remanescente segundo a ELEIÇÃO DA GRAÇA»: e acrescenta: «... o que Israel busca, isso não alcançou; mas OS ELEITOS o alcançaram; e OS OUTROS FORAM ENDURECIDOS» (Rm 11.7).

Mais do que isso o texto não pode dizer. Observe o leitor que o apóstolo está falando de dois grupos distintos de judeus: (1) «os eleitos pela graça» e (2) «os outros endurecidos». Ora, de quem Paulo está falando quando cita a expressão «os eleitos pela graça»? São os judeus, que, iguais a Paulo, experimentaram em suas próprias vidas a manifes­­­­tação da graça salvadora de Deus. E «os outros endurecidos»? Estes são os judeus que, à semelhança dos fariseus da época de Jesus, ficaram e ficam insensíveis às Boas Novas do Evangelho.

2. ROMANOS 9.27: «Também Isaías exclama acerca de Israel: ‘Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo’».

O profeta Isaías está falando da destruição de Jerusalém e do exílio babilônico (Is 10.21.22) e Paulo cita esta passagem e a aplica à situação então existente. Este remanescente, que, com Elias, atingiria o número de sete mil, quando Paulo escreveu esta carta já atingira a soma de dezenas de milhares de judeus cristãos (At 21.20), e estes perpetuam o Israel verdadeiro, desde então único Israel de Deus, que na linguagem de Paulo, formava, agora, a verdadeira oliveira, da qual os ramos endurecidos “foram quebrados pela sua incredulidade” (Rm 11.20), e na qual os não-judeus, conforme iam crendo em Jesus, estavam sendo enxertados, tornando-se “participantes da raiz e da seiva da oliveira” (Rm 11.17). Os demais judeus, que, como ramos, foram quebrados, poderiam e podem ainda ser enxertados, se não permanecerem na incredulidade (Rm 11.23). Paulo era um desses ramos que foram quebrados, por sua incredulidade, mas que foi enxertado na oliveira verdadeira, quando se converteu, e assim esperava ver se de algum modo, poderia incitar à emulação os do seu povo e salvar alguns deles (Rm 11.14).

Deus não rejeita nenhum judeu que não permanece na incredulidade, mesmo depois de ter se fechado ao cristianis­­mo. A história está cheia de nomes de judeus convertidos que se destacaram no contexto mundial. Haja vista, por exemplo, os primeiros quatorze bispos da igreja de Jerusalém que foram judeus convertidos.

3. ROMANOS 11.26: «e assim todo o Israel será salvo». A primeira coisa que devemos lembrar ao lermos este texto é que nunca o verdadeiro Israel de Deus foi a totali­­dade dos israelitas, porque «nem todos os que são de Israel são israelitas» (Rm 9.6). E, se Paulo quisesse dizer que «todo o Israel» seria salvo será que isso se referia só a última geração, só aos israelitas que estivessem vivos por ocasião da vinda de Cristo? Seriam só estes todo o Israel? Isto é mais uma absurdo dos «intérpretes nostra­­dâmicos».

4. ROMANOS 11.12: «Ora, se o tropeço deles é a riqueza do mundo e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quan­­to mais a sua plenitude». A palavra «plenitude» não deve, como alguns forçosamente o fazem, ser interpretada como totalidade, mas esta expressão apenas se aplica à ple­­nitude dos israelitas «segundo a eleição da graça», pela qual «os eleitos o alcançaram e os outros foram endurecidos» (vv. 5- 7), pois, no v. 25, logo adiante, lemos: «... até que a plenitude dos gentios haja entrado»; isto, é lógico, não pode significar que a totalidade dos gentios se converterá, mas, também aqui, se pode conotar a plenitude dos gentios «eleitos pela graça».

Logo, quando o apóstolo diz: «E assim todo o Israel será salvo» refere-se ao verdadeiro Israel, espiritual, composto dos verdadeiros cristãos, tanto de procedência não-judaica como judaica. Este Israel, sim, será salvo, porque Jesus diz: «Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão» (Jo 10.28).

Isto não quer dizer que Deus agora tenha despeito para com os judeus, mas que Ele ama igualmente toda a humanidade, e não tem – como nunca teve, num certo sentido – mais povo ou povos preferenciais, quer seja o povo brasileiro, o povo inglês, ou norte-americano, etc. Deus não age mais, quanto à formação do seu reino, com povo algum, no sentido coletivo, mas Deus trata hoje com indivíduos dentre todos os povos que aceitam o seu filho como Salvador de suas vidas. 

A LEGITIMIDADE DO “NOVO ISRAEL DE DEUS”
DEFENDIDA PELO APÓSTOLO PAULO

Em Gálatas 4.21-30 encontramos a fina flor da apologia cristã feita pelo apóstolo dos não-judeus, com uma alegoria, de fato, irredutível e desconcertante para qual­­quer opositor ou defensor da restauração da nação de Israel para os dias atuais.

Na alegoria que o apóstolo faz de Sara e Agar, os judeus, então centralizados em Jerusalém, apegados à lei e hostilizando os cristãos, são representados como filhos de Abraão com a sua concubina e escrava Agar, como foi Ismael, gerados para a servidão sob a lei mosaica, enquanto os cristãos, que formam a Jerusalém espiritual, que é de cima, são representados como Isaque, filho de Sara, filho da promessa, nascidos para a liberdade cristã. E Paulo acrescenta: «Mas, como naquele tempo o que nasceu segundo a carne perseguida ao que nasceu segundo o Espírito, assim é também agora» (v. 20 – comp. At 17.5; 18.22; 22.27; Ap 2.9; 3.9, etc.)

Paulo termina esta imbatível defesa, dizendo o seguin­­te: «Que diz, porém, a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava [os judeus] herdará com o filho da livre [a igreja]».

— E OS BROTOS DA FIGUEIRA — O RELÓGIO DE DEUS?

Os intérpretes da «equivalência profética» estão à procura de elementos para fortalecerem suas teses absurdas e, infelizmente, a metáfora feita por Jesus sobre a figueira é uma delas. Existe uma imensa coleção de livros, artigos, revistas doutrinárias, tratando deste assunto, onde a restauração da nação judaica é comparada aos brotos da figueira.

Mais uma vez encontramos falha na interpretação e aplicação dos «intérpretes nostradâmicos» a partir de uma análise textual. O v. 29, do cap. 21, do evangelho de Lu­­cas, cita o exemplo da figueira, não por se tratar ela de Israel, mas sim para dizer que os sinais sobre a vinda do reino de Deus são tão claros como o florir da figueira e das outras árvores. Agora, se a figueira é aqui citada é porque se tratava da árvore mais comum na Palestina e era a árvore que lançava seus sinais de vida, através de botões e flores, após as chuvas, anunciando o verão. Um sinal que todos conheciam. O reino de Deus, de igual modo, será facilmente identificável quando estiver em vias de concretização.

Do exposto, dá para se concluir que o texto nada tem a ver com a restauração da nação judaica em 1948. Isto é absurdo!

Bem, com todos estes fortes e imbatíveis argumentos, devemos, pelo menos por uma razão de bom senso, assentir que, hoje, o Israel de Deus é todo aquele que vive uma vida de comunhão com Deus, através de Jesus Cristo.

RPC

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