Santo Segundo a Palavra de Deus
Texto: João 17.17.
INTRODUÇÃO:
Antes de dizer qualquer
outra coisa, gostaria de salientar que um grande avivamento só começa quando
passamos a conhecer, na medida certa, o que significa ser “santo”, “santidade”,
“santificação” à luz do Novo Testamento. Temos problemas sérios com os
avivamentos porque geralmente eles desembocam num movimento de santidade. E aí
por desconhecermos biblicamente esta questão terminamos por cometer as piores
sandices. A razão fundamental por que eu estou falando isso é que precisamos,
desesperadamente, aprender o que Jesus nos ensinou acerca da “santidade” e da
“santificação”.
É pensando – com todo
cuidado, é lógico – em ajudar pessoas que estão literalmente prisioneiras dos
seus desejos e concepções que ponho esta reflexão diante dos irmãos e irmãs.
I – SANTIDADE E
SANTIFICAÇÃO
Uma
e outra palavra devem ser reestudadas por nós. Primeiramente, porque foram
muito mal interpretadas. Em segundo lugar, sua ideia comprometida acabou por
construir na mente das pessoas um biotipo comportamental.
A.
Analisando a expressão santidade.
Qualidade de quem é santo. Deus é santo no sentido de ser O Diferente, O
Separado. Algo ou alguém que é «hagios» (no gr. άγιος)
é diferente ou separado no sentido de ser distinto das outras coisas e das
coisas comuns. De maneira que este
termo, «hagiazein», contém duas ideias:
1. Significa separar para uma tarefa
especial. Quando Deus chamou Jeremias disse: «... e, antes que nascesse, te
santifiquei, te dei por profeta às nações» (Jr 1.5). Os filhos de Arão foram
«santificados» (separados dos demais) para que servissem o sacerdócio (Ex
28.41).
2. Mas «hagiazein» não significa somente
separar para uma tarefa especial. Também implica em equipar alguém com as
qualidades de mente, coração e caráter que resultam necessárias para levar a
cabo essa tarefa. Se alguém é separado para servir a Deus deve ter uma medida
de bondade e sabedoria de Deus. Quem quer servir a um Deus santo deve ser santo
também. A expressão está ligada quase que estritamente ao atributo moral de
Deus.
B.
Analisando a expressão santificação.
Deus nos declara primeiramente justificado e concomitantemente nos torna
participantes da sua santidade. Significa, então, que nós somos santos por uma
questão de participação e não de «consagração expiatória».
C.
Isto quer dizer que somos santos não por méritos alcançados, mas pelo
fato de Deus nos tornar participantes da sua Santidade. A linguagem Paulina impõe esta ideia, quando ele usa a expressão «aos santos» repetidas
vezes nas suas epístolas. O verbo que o apóstolo usa se encontra no particípio perfeito passivo. Isto quer
dizer que a voz do verbo é passiva, ou seja, não é o sujeito que pratica a
ação, mas é o sujeito que sofre a ação. Conclusão: não somos nós que nos
santificamos; Deus, sim, nos faz parte da sua santidade.
D.
Ora, convenhamos, se a santificação serve para dar às pessoas um sentido
incomum de vida e serve também para equipar uma pessoa com valores de mente, de
coração e caráter, nós estamos muito distantes desta realidade.
II – SANTIFICADOS NA
VERDADE
A. Ninguém pode se santificar por conta própria, ou seja, a partir dos
seus próprios conceitos, ideias. Deus nos torna participantes da Sua santidade.
B. Tipos de santificação:
1. Santificação compensatória. Aquela em
que a pessoa, por conta própria, procura compensar todos os seus erros,
trocando com Deus um pouco do seu tempo pelas bênçãos divinas.
2. Santificação expiatória. Nossas
consagrações – no sentido mais objetivo da palavra – mais parecem expiações
pelos pecados do que um ato, pura e simplesmente, de dedicação a Deus.
3. Santificação compulsória. É compulsória
porque a pessoa faz por obrigação e não pelo prazer de estar na presença de
Deus.
4. Santificação emulatória. As pessoas
fazem para competirem com outras. Ou, na melhor das hipóteses, fazem
induzidas por aqueles que estão fazendo com sucesso. Fazem para competir.
5. Santificação autoritária. As pessoas que
fazem esse tipo de santificação pensam que são mais do que as outras. Ou seja:
só se santificam para provar sua ascensão sobre as demais.
C. Ninguém consegue ser santo por conta própria. Os
que tentam sozinhos só conseguem é aflição de espírito.
D. Outros tipos de santificação:
1. Santificação eventual. É aquela que
acontece eventualmente na vida da pessoa. De mês em mês há uma recaída e uma
santificação.
2. Santificação conveniente. A mais das
vezes temos pessoas se santificando por razões eminentemente convenientes.
Querem de Deus alguma coisa e por isso se santificam.
3. Santificação à procura do poder. É
aquele tipo de santificação que as pessoas comumente fazem para obter o poder
de Deus.
4. Santificação do jejum. De quando em
quando nos deparamos com aqueles que vivem jejuando, mas fazendo do jejum um
meio para obter de Deus alguma coisa.
E. O jugo que algumas pessoas carregam é muito maior do que elas podem suportar. É o jugo de uma consciência doente e inquieta na presença de Deus. O jejum deve ser o resultado por estarmos na presença de Deus e não a causa de entrarmos na presença de Deus.
F. A santificação deve ser consentânea com a Palavra de Deus e não algo da nossa cabeça.
III
– O QUE JESUS QUERIA DIZER COM A PALAVRA SANTO
O que precisa ficar bem
claro a você, leitor, é o real sentido da palavra “santo” para Jesus. Até
porque Jesus é o nosso paradigma, o nosso modelo, nosso arquétipo, nosso
referencial maior.
. Ser santo para Jesus é buscar ser essencialmente humano, ser parte da
história, porém vivendo a presença de Deus no mundo.
. Ser santo para Jesus tem relação com a busca de uma sociedade sem
desigualdades e onde os mais fracos jamais sejam despojados.
. Ser santo para Jesus é viver a alegria do conhecimento de Deus com
oração e fé e é sofrer as angústias da história como resultado dos nossos vínculos
com um padrão que o mundo não conhece.
. Ser santo para Jesus é ser separado, não dos pagãos, como Israel
equivocadamente tentou, mas é viver a diferença radical dos valores do Reino de
Deus em meio às sociedades pagãs.
. Ser santo para Jesus é ter na paixão dos profetas a motivação
existencial para o nosso enfrentamento histórico do mal.
. Ser santo para Jesus é, mesmo
em dia de sábado, trabalhar a favor da santidade de vida.
. Ser santo para Jesus é colocar o valor da vida acima do valor das
coisas, mesmo aquelas mais «sagradas» (entre aspas).
. Ser santo para Jesus é entender que o altar diante do qual Deus nos
quer ver prostrados não é apenas o altar do templo, mas também os altares
ensanguentados dos corpos dos nossos irmãos de história e que estão caídos nas
esquinas da vida.
. Ser santo para Jesus é viver a misericórdia no agitado ambiente
secular, em vez de viver a quietude alienada do ambiente religioso que não tem
janelas para a história da dor humana.
. Ser santo para Jesus é acreditar que a santidade não se polui quando
toca com amor aquilo que é sujo.
. Ser santo para Jesus é não temer ser mal interpretado pela mente
daqueles que estão sujos de pretensa santidade.
. Ser santo para Jesus é ser autêntico, original, sincero e não viver de
hipocrisia.
. Para Jesus ser santo é ser verdadeiro para com a
nossa condição humana: é ter coragem de chorar em público; de admitir perdas e
saudades; de gritar de dor; de confessar depressão; de pedir ajuda emocional; de
se confessar cansado; de dizer tenho sede; de confessar que a privacidade é um
direito e uma necessidade de sobrevivência.
. Ser santo para Jesus é continuar sendo de Deus
mesmo em meio ao mais profundo e implacável silêncio divino.
CONCLUSÃO:
Portanto, não
santificamos a Deus com a nossa noção de sermos secretários de Deus, achando
que sabemos tudo sobre Ele, achando que discernimos toda a sua vontade, como
se tivéssemos todas as manhãs uma entrevista marcada com Ele, na qual nos
mostrasse detalhadamente todos os caminhos da vida. Não santificamos a Deus
quando todo o nosso interesse em relação a Ele é sermos «ajudados». Ofendemos
a Deus não somente pela negação do seu poder, mas também pela súplica
egocêntrica, egoísta.
Não se santifica
a Deus estabelecendo um lugar para Ele morar, caindo nas teologias pagãs do
«lugar santo».
Finalmente – e isso é
muito importante dizer – não sejamos santos pelo orgulho de sermos diferentes. Não
sejamos santos por um dia e nos outros nos tornemos pessoas insensíveis. Sejamos
santos na medida que nos ensinou Jesus através da sua vida e história.
Rev. Paulo Cesar Lima
Presidente da CNADEC
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