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O EVANGELHO É O CHAMADO DE DEUS À LIBERDADE


INTRODUÇÃO:

Antes de qualquer coisa, gostaria de fazer a leitura da Bíblia em Lucas 13:1-3 e depois estarei lendo três pensamentos.

Fazia quinze anos que Tibério era o Imperador romano. Nesse tempo Pôncio Pilatos era o governador da Judeia, Herodes governava a Galileia, o seu irmão Filipe governava a região da Itureia e Traconites, e Lisânias era o governador de Abilene. E Anás e Caifás eram os Grandes Sacerdotes. Foi nesse tempo que a mensagem de Deus foi dada, no deserto, a João, filho de Zacarias. E João atravessou toda a região do rio Jordão, anunciando esta mensagem: — Arrependam-se dos seus pecados e sejam batizados, que Deus perdoará vocês” (Lucas 3:1-3).


Pensamentos:

«Quando você para de sonhar, você deixa de viver!»
«É melhor começar algo novo do que consertar o velho que já está viciado».
«Nascemos para ser águias e não galinhas», palavras de um ministro africano.


Com estas retumbantes palavras, eu inicio esta reflexão.

Concordo com as palavras do saudoso Rubem Alves: “O Evangelho é um chamado de Deus à liberdade. Foi através de um evento libertador, o Êxodo, que a comunidade da fé chegou a conhecer Deus. E a Bíblia toda é a história da luta de Deus que quer que os homens sejam livres, contra os próprios homens que preferem a domesticação, a escravidão e a idolatria”.

O fundamento de que estou falando a verdade para os senhores ministros da CNADEC – Convenção Nacional das Assembleias de Deus EM CRISTO – é o fato de que Jesus Cristo é, a um só tempo, o homem livre e o Deus que liberta, segundo Rubem Alves. Fé, portanto, é liberdade. É abertura ao futuro. É a confiança que deixa para trás as coisas que já ficaram para trás para lançar-se a um futuro novo. Por isso, fé é vida. O ato de viver é um permanente transferir-se do presente para um futuro imediato. Morte, ao contrário, é a vitória do passado. É o fixar-se naquilo que já foi. Esta é a razão por que entendo o que Rubem Alves diz:

«Pecado é amar mais o passado que o futuro, amar mais o velho que o novo, amar mais os mortos e a morte que os vivos e a vida».

Jesus chama os fariseus de sepulcros caiados para indicar que a sua religião, por ser a preservação do passado, era realmente o culto à morte. 

No período em que a igreja absolutizou sua hierarquia, contra a hierodulia ensinada por Jesus, arrogando-se divina e com o direito de incluir e excluir pessoas no seu rol de santos, a Reforma Protestante é levantada por Deus para ressarcir aos homens a liberdade roubada.

No Catolicismo Romano Medieval a proclamação do evangelho se transforma no culto da autoridade, da lei, e da estrutura. Lutero percebe que o espírito daquela igreja era a própria inversão e negação da proposta de liberdade de Jesus. Daí a necessidade de protestar, de resistir, de emigrar para formar, fora da terra da escravidão, uma nova comunidade baseada no amor e na liberdade.

Só que a comunidade de liberdade esquecemos, traímos e nos rebelamos contra a própria liberdade. Na realidade não existe novidade nisto. Os profetas viram com clareza que Israel tinha uma irresistível tendência para os ídolos, para o passado, para a morte. Até que um deles proclama, em nome de Deus: «Não sois mais meu povo».

Segundo posso ver, esta é a situação em que se encontram algumas denominações e convenções em nosso Brasil. Triunfa o autoritarismo sobre a comunidade, as estruturas sobre a pessoa; o passado sobre o futuro; a lei sobre o amor. E, em última instância, a morte sobre a vida.

Vivemos na maioria das assembleias de Deus – seja igreja ou convenção – um tipo de sóciofagia – um quer comer o outro; um quer destruir o outro. Ou paramos com isso ou Deus vai nos parar.

Estou convencido de que a maioria das assembleias de Deus e Igrejas Pentecostais do Brasil e tantas outras semelhantes, hoje, são uma grotesca ressurreição dos aspectos mais repulsivos do Catolicismo Medieval.

Em meio a fatos tão contundentes de corrupção do divino nos meios religiosos, a comunidade de fé precisa emigrar. Conforme Rubem Alves, nenhuma estrutura legal e de poder pode contê-la, ou domesticá-la. Assim como no Êxodo ela abandonou as panelas de carne do Egito para peregrinar no deserto, assim como os profetas abandonaram e desprezaram toda a estrutura oficial, para viver espalhada, escondida, incógnita no mundo. O amor e a verdade frequentemente nos obrigam a emigrar. Abraão emigrou: por fé e amor. Também os profetas emigraram por fé e amor para fora das instituições reconhecidas.

O próprio Jesus, o Filho de Deus, deslocou-se da interioridade protegida de uma instituição todo-poderosa para um deserto de incertezas. Não posso afirmar categoricamente que a vocação pela liberdade é a vocação para emigrar. Mas de uma coisa tenho a mais absoluta certeza que algumas circunstâncias contingenciais fazem com que você emigre.

Vivemos pela esperança de algo novo. O Novo Testamento diz que  o Espírito se encontra onde se encontra a liberdade. “Onde há o Espírito do Senhor aí há liberdade”. Não encontro a liberdade na maioria das denominações e convenções que vive de passado. É hora, portanto, de buscar a comunidade do Espírito.

Pastores, evangelistas, pastoras, missionárias da CNADEC, eu os conclamo, neste dia, para uma peregrinação no deserto a fim de construirmos uma verdadeira casa de profetas, de homens de caráter, comprometidos com a verdade, a justiça, o amor... Este é o caminho da liberdade que o Senhor Jesus traçou para nós.

Precisei de 40 anos da minha vida para chegar à conclusão que caráter, honestidade, verdade, sinceridade, liberdade... vale mais do que qualquer CARTEIRA; que nada me prende a uma associação que se DESVIOU dos caminhos de Deus senão eu mesmo, quando não quero crescer e avançar na vida ministerial. Toda instituição que ousa viver do passado, e que continua a fazer seu culto à morte e ao "burro", deve ser deixada para trás.

O que estamos fazendo aqui hoje é levantar uma bandeira de um novo tempo. Um tempo de recuperação, reabilitação da moral, mas também de ressarcimento e indenização a Deus e à ética por tudo quanto ficamos lhe devendo.   

Pastores, estamos em débito com Deus, com a moral, a honestidade, a verdade e a liberdade. Estamos presos e oprimidos por meras formalidades e banalidades. Achamos que pertencendo a uma associação x ou y isso nos dará mais legitimidade como pastores e homens de Deus. Sim, estar ligado a uma instituição que apregoa a liberdade, o crescimento, a união e a equiparação de valores do Reino, é tudo de quanto precisamos. Mas quando uma instituição apodrece em vida, se decompõe e se transforma em agente de injustiça, prevaricação, quebra do direito, de vendas dos valores cristãos, cooptada politicamente, temos que EMIGRAR.

A PALAVRA DE DEUS EMIGROU DO TEMPLO

«E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados» (Lucas 3:1-3). 

João Batista já entra na história emigrado: está no deserto. Na sua época, o sistema sacerdotal, com algumas exceções, estava envolvido com o chamado “MENSALÃO ROMANO”. Anás, o sumo sacerdote, e o seu genro Caifás, estavam recebendo dinheiro romano para domesticarem e controlarem o povo de Israel. O fato é que uma vala imoral estava aberta no meio da santidade sacerdotal e por isso Deus emigrou para o deserto ao encontro de João, comedor de gafanhoto, para fazer renascer a liberdade: “...veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias”. Deus, ao fazer esse movimento de saída, soltou, desatou, desprendeu, desligou a Palavra que estava presa. Deus estava precisando, naquele momento, de profeta.

Jesus começou seu grande movimento com os galileus, povo mal falado, homens reprovados, amaldiçoados, segundo os intérpretes da lei. Mas foi com esses homens (tidos como inferiores) que Jesus fez a diferença na história.

Isaías, mesmo sendo profeta palaciano, teve que escolher ficar do lado de Deus. Ele viu que tudo estava desmoronando ao seu redor. Mas ele viu um lugar de segurança e esperança: “Eu vi o Senhor assentado num alto e sublime trono, e o seu séquito enchia o templo...”.

A DESCOBERTA DE HABACUQUE

Habacuque descobre que o justo não é uma personalidade passiva na história, mas um “sujeito ativo de transformação da história”. Habacuque descobre que os caminhos de Deus são misteriosos e às vezes paradoxais e ninguém pode prevê-los. O profeta ainda descobre que numa sociedade dominada pela injustiça e corrupção, somente a lealdade e a fidelidade, homens que têm firmeza de caráter, prevalecem.

Habacuque descobre que a história de Israel e do mundo não está à deriva, mas Deus tem a última palavra. Habacuque descobre que, conquanto as coisas não aconteçam como gostaríamos, Deus continua sendo o Senhor da História. É assim que Habacuque toma consciência do papel do justo entre Deus e a história, ou seja, o de ser instrumento para Deus agir na história, ele deixa de ser resignado e passivo. Quanto mais o profeta abre os olhos, tanto mais ele compreende que a sociedade e a história construídas pelo injusto não são absolutas e intocáveis.

A aparência de estabilidade da injustiça se deve à ignorância e alienação do povo que, embora vítima, acaba dando sustentação e aparência de eternidade ao sistema. As coisas mudam quando o povo compreende que tudo isso pode ser desestabilizado e dar lugar a uma realidade mais justa. É o que nos diz Habacuque em 2:5,6a: o tirano injusto acabará se tornando motivo de piada. Trata-se tanto do injusto em nível nacional como internacional, tanto da classe privilegiada que espolia o povo como das grandes potências que exploram outras nações.

CONCLUSÃO:

Do exposto, eu termino esta reflexão asseverando que se mata um gigante quando não olhamos para o seu tamanho, a sua enorme dimensão, mas sim quando olhamos para a possibilidade de ele ser derrubado em nome do Senhor dos Exércitos.





Rev. Paulo Cesar Lima
Presidente da CNADEC - Convenção Nacional das
Assembleias de Deus Em Cristo.

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